Diário de Bordo do Grupo Arte Simples de Teatro. Sobre a pesquisa e linguagem do grupo, relatos e informações sobre a Residência Artística que realiza na comunidade de Heliópolis desde Março de 2009.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

APRESENTAÇÃO DE 22/09/2009 - CRECHE DA RUA DA MINA

Nesta última terça feira nos apresentamos para 85 crianças de 1 ano e meio a 4 anos, pertencentes à creche da Rua da Mina.

Chegamos encantados com aqueles seres pequeninos, que nos observavam com seus olhinhos arregalados e curiosos para saber quem éramos e o que estávamos fazendo ali.

Quando vimos o tamanho e idade das crianças, ficamos um pouco apreensivos, pois sabemos que nesta idade todo cuidado é pouco: muita calma, carinho, tom de voz suave... Começamos o espetáculo interagindo com os pequenos enquanto se acomodavam na platéia. Bolhas de sabão, palhaçadas, boas vindas... E assim, sob os olhares curiosos, a história começou a ser contada.

Nossa trajetória com essa idade está apenas começando, mas é um desafio delicioso: conseguir comunicar a história, conseguir prender a atenção, causar sensações, emoções e principalmente, estabelecer a interatividade com eles.

É com muito orgulho e com a sensação de dever cumprido que digo que conseguimos vencer esse desafio: tivemos muita interação e atenção da platéia, risadas, falas sobre a história... Simplesmente delicioso!

Nós, atores, temos a sensação de que estamos errando no tom. Será que falamos muito alto? Será que eles entenderam essa parte da história? Será que não estamos subestimando a capacidade de entendimento deles? Essas são algumas de nossas questões nos poucos momentos que temos de coxia. Nosso espetáculo contém muita energia, barulho e música alta... Fazer o espetáculo com a mesma energia porém com mais suavidade é o grande desafio do elenco. Pelo olhar e retorno da diretora, conseguimos. E pelas reações da platéia, antes, durante e após o espetáculo, tivemos essa certeza.

É muito gratificante saber que nossa pesquisa pautada na adaptação do espetáculo baseada nas faixas etárias está dando muito certo, rendendo frutos, esquentando nossos corações e o da platéia. Nesse caso, pequeninos corações, mas que estavam abertos para acolher todo o grupo.


OLHINHOS VIDRADOS NA HISTÓRIA

ESSA PEQUENA FEZ QUESTÃO DE
SEGURAR O PRESENTE DA PRINCESA

BLACAMAN, O CONSELHEIRO REAL E SEU CAVALO ALADO

CARINHO DEPOIS DA PEÇA

OLHA A DESPROPORÇÃO: NESSA FOTO
DÁ PRA VER O QUÃO PEQUENINOS ELES ERAM



COM A PALAVRA... MARCELA - NOVA INTEGRANTE DO ELENCO

"Ter entrado para o Grupo Arte Simples é um privilégio, como atriz e como pessoa. Pois estar em contato com as crianças de Heliópolis é uma experiência única, vai além de atuar.

Estou entrando agora e ainda tenho que memorizar marcações e texto, mas com a generosidade deste grupo e o carinho da platéia, esta tarefa vem de forma divertida e natural.

Quando me deparei pela primeira vez com as crianças, como personagem, senti algo difícil de descrever. Elas simplesmente entraram no mundo lúdico, perguntaram até pra que time eu (o personagem) torcia. E o carinho é o melhor de tudo, elas vêm nos abraçar e beijar como se nos conhecessemos há tempos, com tamanha verdade e pureza que surpreende e desarma qualquer adulto endurecido pelo mundo real. Para essas crianças não há barreiras para mostrar sentimentos, curiosidades e quem realmente são.

E por isso sinto tanta vontade e amor em estar lá, levando pela arte meios para que elas possam se colocar no mundo, um mundo que ainda vai ficar melhor, pois temos que acreditar que elas terão a oportunidade de transformar, de serem pessoas ativas, que saibam fazer a diferença. E é aí que nós entramos, com o teatro elas podem desenvolver capacidades que desconhecem e dizer para todos o que pensam, se expressando, agindo e transformando.

É extremamente gratificante ver essa transformação nascendo, vendo as crianças torcendo pelos (personagens) trabalhadores do castelo, se encantando com a princesa mimada e a rainha má, gargalhando com as trapalhadas do conselheiro real Blacaman, acolhendo o menino Cirilo (preso pela rainha) com tanto carinho, batendo palminhas e com o olhar penetrante na peça, tentando entender e senti-la de boquinha aberta.

Agradeço a todos que me deram a oportunidade de viver isso e trocar experiências com essas crianças maravilhosas"

TEXTO DE MARCELA VELASQUES - INTEGRANTE DO GRUPO.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Apresentação na EMEF Péricles - 15/09/2009


Voltamos com as apresentações! Fomos recebidos com muito carinho, dos alunos, dos funcionários, professores e diretora da escola. Vocês não imaginam a organização da escola, além de muita disponibilidade dos educadores.

Apresentamos para 135 crianças de primeiras e segundas séries. A energia estava intensa, os personagens interagiram com a platéia antes do espetáculo começar e de cara já sentimos o carinho e animação das crianças.


A cada apresentação descobrimos algum elemento que auxilia a formação da identidade do grupo. Desta vez, para mim, que sempre assisto a peça "de fora", a grande descoberta foi que alcançamos uma maturidade; temos 3 adaptações do espetáculo para diferentes faixas etárias. Eu achava que o nome era "adaptação", mas descobri que esse nome não é o mais apropriado. Temos então uma "pesquisa" aprofundada na linguagem teatral, criamos a linguagem de acordo com a necessidade de cada faixa etária. Nossa pesquisa consiste na sobreposição de TEXTO + ATORES + PLATÉIA. A partir destes 3 elementos é que baseamos nosso espetáculo da vez. Essa sobreposição só é possível hoje em dia pois aprofundamos nossa relação com o RISCO, com a coisa viva que nasce em cena, no momento único em que o espetáculo é apresentado. Vivemos na corda bamba.

Tivemos a estréia de 2 atrizes no espetáculo, que já faziam parte do grupo e deste projeto como arte-educadoras, porém agora estão conosco no elenco do espetáculo e é claro que isso só tem a nos acrescentar: Marcela Velasques, arte-educadora do CCCA Parceiro e Verônica Gentilin, arte-educadora do CCCA 120.


Após a apresentação, os professores utilizaram o espetáculo como tema da aula. Foi emocionante ver os desenhos que eles fizeram baseados na peça e como a história repercutiu em cada um.


E é claro, não podemos deixar de falar do lindo café da manhã que foi preparado para o grupo com todo o carinho e capricho! uma delícia!

Até a semana que vem!


Texto de Tatiana Rehder, diretora do grupo e de Marília Miyazawa.

CAFÉ DA MANHÃ SERVIDO PARA O GRUPO


AULA DADA APÓS O ESPETÁCULO

DESENHO FEITO POR CRIANÇA QUE ASSISTIU AO ESPETÁCULO

PLATÉIA DA EMEF PÉRICLES

sábado, 12 de setembro de 2009

AGENDA DO GRUPO EM HELIÓPOLIS

Olá!

Temos diversas apresentações marcadas, tanto do espetáculo "A FESTA", quanto da versão para crianças de até sete anos, "A FESTINHA". Além disso, nosso grupo irá ministrar para professores de educação infantil uma oficina de capacitação, com foco em jogos teatrais para os pequeninos.

SEGUE NOSSA AGENDA ATUALIZADA:
DIA 14/09 - ESPETÁCULO "A FESTINHA" - EMEF PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS (PARA PRIMEIRAS E SEGUNDAS SÉRIES)

DIA 19/09 - OFICINA DE CAPACITAÇÃO: "ENSINANDO A BRINCAR DE TEATRO"

DIA 22/09 - ESPETÁCULO " A FESTINHA" - CRECHE DA RUA DA MINA

DIA 29/09 - ESPETÁCULO " A FESTA" - EMEF PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS (PARA TERCEIRAS E QUARTAS SÉRIES
)

DIA 06/10 - ESPETÁCULO " A FESTA" - EMEF PÉRICLES EUGÊNIO DA SILVA RAMOS (PARA OITAVAS SÉRIES)

DIA 12/10 - EVENTO PARA O DIA DAS CRIANÇAS EM HELIÓPOLIS (ainda não confirmado)

DIA 13/10 - ESPETÁCULO " A FESTINHA" - EMEI JOAQUIM ANTÔNIO DA ROCHA

(PARA 04 E 05 ANOS )

DIA 20/10 - ESPETÁCULO " A FESTINHA" - EMEI JOAQUIM ANTÔNIO DA ROCHA

(PARA 05 E 06 ANOS
)

Lembrando: qualquer pessoa que tenha interesse em assistir ao nosso espetáculo, entre em contato conosco através de e-mail divulgado na página inicial do Blog!
Até mais!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

PRONUNCIAMENTO DO GRUPO SOBRE CONFLITOS EM HELIÓPOLIS

Nós estamos profundamente entristecidos, comovidos e mobilizados pelos últimos acontecimentos em Heliópolis. Extremamente preocupados com nossos queridos moradores, com os quais criamos enorme vínculo afetivo.

Não estamos aqui para darmos nossa opinião sobre a polícia, sobre a mídia, sobre a violência, sobre as diferenças sociais que deixam enormes buracos em nossa sociedade. Somente o que podemos dizer é que somos totalmente contra a violência de qualquer espécie.

Podemos sim opinar sobre nossa vivência e convivência com Heliópolis.
Um bairro tranquilo, com pessoas trabalhadoras e honestas, que lutam pela paz na comunidade e por uma vida digna em meio a tantos percalços. Não é a toa que a última caminhada pela paz tomou todas as ruas do local. Inúmeros trabalhos são feitos para que as crianças de Heliópolis tenham educação e condições de futuro. Trabalhos DA comunidade PARA a comunidade.
É isso que testemunhamos e vivenciamos. A nossa visão, que pode não ser a mais abrangente, pois temos a sorte de conviver com tais pessoas trabalhadoras e honestas, é a visão de quem enxerga na comunidade uma enorme vontade de viver no caminho da paz e seguir em frente perante uma vida difícil.

Como disse Raquel Rolnik, em matéria para um jornal de São Paulo, é preciso desvincular a pobreza da criminalidade. A maioria das pessoas que moram em favelas não estão ligadas ao crime.

Também estamos aqui para relatarmos como os fatos ocorridos repercutem em nossas queridas crianças.
Fomos ministrar as oficinas um dia após a morte da adolescente Ana Cristina de Macedo, 17, atingida por uma bala perdida. O clima estava tenso, as atividades dos Centros para Crianças e adolescentes modificadas, com polícias e redes de TV tomando conta das ruas.
Nessa atmosfera tensa, sentimos as crianças tensas também. Foi difícil cumprir o cronograma de aulas e difícil conseguir a concentração dos alunos. Estavam tensos, desconcentrados, tristes, irritados, bagunçados.

Durante a aula, numa história criada por eles, (onde o imaginário poderia ir para o belo mundo da fantasia), pipocavam armas e tiros, citações à Fundação Casa, ao conselho Tutelar, à violência, morte. A realidade chocante é tão cotidiana que a imaginação vai diretamente para a crueza da violência. Crianças que deveriam sonhar com fadas e castelos, constroem histórias pautadas nessa realidade em que vivem. É de cortar o coração.

Entre inúmeros motivos, a razão dessa parceria com Heliópolis. Criar através da arte possibilidades de formação de seres humanos dispostos a modificar a realidade em que vivem.
Educar para transformar, educar para dar ferramentas para a construção de uma sociedade mais justa, digna e humana.