Essa foi nossa primeira apresentação em um teatro, com palco Italiano (onde a platéia fica de frente para o palco, distanciada). Desde que marcamos essa apresentação, confesso que estava receosa, pois teríamos que fazer ensaio com luz, marcação de palco, enfim... Toda a rotina que nós nunca tivemos nessa peça e que não escolhemos para essa trajetória (pois nosso espetáculo sempre é apresentado em espaços não-convencionais, como salas de aula, refeitórios, quadras de esporte etc).
Há semanas atrás, quando fui ao CEU MENINOS e descobri que lá nossa apresentação seria num teatro convencional, tentei imediatamente convencer a coordenadora de que poderíamos “inovar”, apresentando na quadra ou “inovar mais ainda”, apresentando ao ar livre perto da piscina ou “não inovar” e apresentar num salão. Mas de nada adiantou, a coordenadora insistiu que a peça deveria ser no teatro.
Voltando para casa no mesmo dia, percebi que era pura insegurança minha, já que a pesquisa do grupo é levar a nossa peça aonde o público está e não onde queremos que ele esteja para o nosso conforto.
Até que chegou o dia da apresentação. Já havíamos feito um ensaio no palco e fizemos mudanças de marcações. Então juntei os atores uns 5 minutos antes das portas abrirem para platéia e pedi para que eles tentassem não “fechar” a peça, já que estariam em cima do palco com certa distância das crianças.
As portas se abriram e as crianças começaram a entrar... Os atores estavam na platéia, recebendo as crianças... A interação começou naquele momento, e que interação!
A peça começou. No primeiro minuto as crianças já começaram a interagir, e eu, lá do fundo da platéia, chorei e me emocionei, não pelas crianças, mas sim por nós, que estamos ali, acreditando no nosso potencial artístico e que mesmo em cima do palco não perdemos o rumo da nossa pesquisa. Chorei pela entrega dos atores, chorei pela troca, chorei por ter escolhido essa profissão tão tarde na minha vida e que não me arrependo nem um minuto sequer e agora choro escrevendo para o blog, pois mesmo na frente do computador consigo reviver todos os momentos dessa troca com o público.
Assusto-me todos os dias com o rumo que nosso grupo e nossa pesquisa estão tomando, um susto bom, de algo que sempre esperamos e que agora chega com tanta força.
Neste dia tivemos 375 crianças de
Lembrei de um encontro com o autor Luiz Alberto de Abreu, em que ele disse que o palco italiano nunca distanciou a platéia, mas sim que nós mesmos é que montamos as nossas peças sem lembrar que a platéia faz parte do jogo teatral. Primeiramente ouvi essa citação com desconfiança... Mas nesse dia 16/05 no CEU MENINOS comprovei que isso é a mais pura verdade. Para nós o palco teve efeito contrário, nunca tivemos as crianças tão vivas!!!
E nós, é claro, tão vivos quanto elas!
Texto de Tatiana Rehder, diretora do espetáculo
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