Diário de Bordo do Grupo Arte Simples de Teatro. Sobre a pesquisa e linguagem do grupo, relatos e informações sobre a Residência Artística que realiza na comunidade de Heliópolis desde Março de 2009.

sábado, 24 de abril de 2010

depoimento de uma atriz sem voz - apresentação de 19/04/2010

 
"Acordei preocupada... como resolveríamos esse pequeno detalhe: estou muda! E pensei: dou vida à personagem Infanta, não posso perder a voz! Mas em seguida percebo minha incapacidade e num olhar franco com a diretora, assumo: não vai dar... 


A INFANTA ORIGINAL, EMOCIONADA, 
NA PLATÉIA, TOTALMENTE SEM VOZ

 A INFANTA DO DIA, 
SALVADORA DA PÁTRIA!
Imediatamente a diretora conversa com outra atriz, que com os olhos molhados pelo “tamanho do abacaxi”, topa o desafio. Bom, decisão tomada, todos respiram fundo e acreditam! Eu ficaria na filmagem da platéia e principalmente, filmagem da Infanta do dia. Arrumamos as cadeiras, os atores se preparam e percebo que não estão nervosos, pelo contrário, jogam a energia lá prá cima e se concentram, ajudam a atriz nas marcações e deixas, todos assumem os riscos e compram a idéia... Fazemos uma roda, é nosso primeiro dia em Heliópolis pós aprovação do edital do Fomento, gritamos o MERDA com tanta garra e coragem que me emociono... 
Lá vem as crianças e Dionísio abençoa! A platéia reage: hora conversa com os personagens, hora faz um silêncio quase inacreditável... a peça segue magicamente, cada ator dá e recebe com uma honestidade de arrepiar. Estou no meio da platéia e posso ouvir os comentários baixinhos, no final um menino suspira e diz: que covardia! Quase levanto de tanta vontade de responder, compartilhar com ele que “essa princesa é mesmo do avesso” (ainda bem que estou sem voz!) e me lembro sorrindo das palavras da diretora: quanto mais eles reagirem, melhor!!! 
A peça termina, vêm os aplausos e nossa diretora faz questão de agradecer e informar (pela primeira vez!) que esse espetáculo é realizado através da lei do Fomento ao Teatro!
Depois de mais essa experiência me fica a sensação de que esse Grupo é feito de algo muito especial: amor. São pessoas que se amam, se respeitam e tem em comum o amor maior: o amor pelo Teatro! E o desejo de fazer do teatro uma arte possível à todos!!! Ouço dentro de mim: É aqui que eu quero estar, é Arte Simples nesse lugar!!! Muito obrigada por hoje Grupo e Comunidade.
Um abraço apertado e mudo!"
Camila Arelaro - atriz

domingo, 18 de abril de 2010

A MELHOR NOTÍCIA DO ANO!

É com muita alegria que anunciamos que o Grupo Arte Simples, com seu projeto TEATRO EM HELIÓPOLIS, foi contemplado com o "Programa Municipal de Fomento ao Teatro", principal mecanismo de financiamento de teatro de grupo em São Paulo desde 2002.

Esse programa possibilitará melhorias no projeto já existente e sua expansão de maneira qualitativa: 

- abertura de duas novas oficinas de teatro (totalizando 9 oficinas e 180 crianças e jovens atendidos)

- materiais para essas oficinas (incluindo material didático para a oficina de capacitação em oficineiro de teatro)

- duas temporadas do espetáculo aos finais de semana, para que a comunidade em geral tenha uma opção gratuita de cultura em seu horário de lazer.

- 2º Festival de teatro jovem de Heliópolis, com cenários e figurinos para todos os espetáculos oriundos das oficinas de teatro.
-  lançamento de livro contendo relatos de todo o projeto, buscando documentar as ações tomadas e incentivar iniciativas semelhantes.


E continuamos a levar o espetáculo "A FESTA" para todas as instituições estudantis de Heliópolis, incluindo creches, ensino infantil, fundamental e médio, no período vespertino.

Estamos realizados!!!!

sábado, 17 de abril de 2010

APRESENTAÇÃO DIA 12 DE ABRIL - EMEF LUIZ GONZAGA



Chegamos na mesma escola da semana passada, onde estaremos durante todo o mês e meados de maio, para mais uma apresentação.
Claro que chegamos na expectativa: será que a platéia vai "bombar" como na semana passada?
Nenhum espetáculo é como o outro, afinal, toda peça é um organismo vivo que depende de muitos fatores para acontecer ou não...

Nossa platéia dessa semana foi formada por alunos da quarta série. No momento em que a peça começou, ainda havia muito barulho e dispersão. Aos poucos, a platéia foi sendo cativada pela história. Durante o espetáculo, participaram bastante, tomaram posições em relação aos personagens, fizeram coro... Porém...

É incrível como esse espetáculo deve sempre ser feito de maneira que não haja intervalo para a platéia "respirar". Explico melhor: aqui não cabem pausas, devaneios, energia baixa... Bastou um segundo de qualquer uma dessas coisas para a platéia escapar de nossas mãos. E foi isso que aconteceu. No final, já havíamos perdido metade da platéia para a dispersão...
É um espetáculo enérgico, barulhento, com multiplos focos e atenções, interação... Se por um acaso os atores não estiverem com toda a sua energia em potência máxima, se esperarmos o ruído (maravilhoso) da interatividade acabar para dar nossos textos... estamos perdidos. Perdemos a atenção do público.

E sem a atenção do público de que serve o teatro?????



Todos os dias temos uma luta, a luta de manter o alto nível energético do espetáculo. Mas como disse no começo, é um organismo vivo, que depende de muitos fatores, fatores HUMANOS. E estar nessa luta é delicioso. Não há nada melhor que cativar aos poucos e de repente, sermos tomados pelo nosso personagem principal, pelo seu ruído...

Semana que vem tem mais!


terça-feira, 13 de abril de 2010

APRESENTAÇÃO DIA 5 DE ABRIL - EMEF LUIZ GONZAGA


Quanta saudade estávamos de uma apresentação como essa... LOTADA de interação, gritos, opiniões... podemos dizer que foi CATÁRTICO. Decibéis elevados à última potência. Energia intensa!!
Houveram momentos em que mal conseguíamos falar o texto, tamanha a participação da platéia.
Para nós não há melhor espetáculo: em que o público vira o personagem principal.
Sensação de objetivo cumprido! Interatividade até o último momento.

No final da peça, uma reação inusitada:  Não é surpresa para nós o carinho da platéia depois do espetáculo, porém nesse dia... quase invadiram o "camarim"! Queriam falar com todos os atores!!

Fica até meio ridículo contar essa parte... Porém sem medo contei, pois não é para dizer "olha só como somos amados, olha só o trabalho que fazemos", e sim para dizer que eles foram tomados e tocados pela história. Inteligentemente reagiram e opinaram. O carinho que recebemos depois é um reflexo da história da peça que fica na platéia. E é o que nos move!!! Queremos tocar ARTÍSTICAMENTE a platéia de Heliópolis, não queremos levar caridade, não fazemos caridade, não somos apenas um projeto social, somos um PROJETO ARTÍSTICO com base social, que possui o foco de ir aonde o público está e escolhemos o público de Heliópolis.
Temos sim em nossa pesquisa uma contrapartida social, acreditamos que a arte está a serviço da educação, da conscientização! Mas não queremos com isso fazer nenhum tipo de caridade, pois estarmos em Heliópolis é uma forma de TROCA. Não somente DAMOS, mas RECEBEMOS demais, APRENDEMOS demais. Heliópolis nos dá oportunidade de experimentarmos linguagens artísticas, de crescermos como artistas, de sempre termos platéia (o quesito principal do teatro), além de poder nos inscrever em diversos editais com alguma chance de ganhar, por se tratar de um projeto em que também a arte está a serviço da população e não somente a serviço dos próprios artistas.

Por isso que é sempre muito difícil escrever nesse blog, pois o medo de parecer que estamos nos "gabando" do que fazemos é intenso. Fazemos nosso trabalho como qualquer outro grupo de teatro. Simples assim. Queremos crescer artísticamente, queremos visibilidade no meio teatral, queremos ganhar dinheiro fazendo teatro, como qualquer outro grupo ou companhia artística. Não somos melhores ou piores do que ninguém, simplesmente essa foi a linguagem que encontramos para existir e para nos mover como um coletivo.